domingo, 27 de abril de 2014

San Juan del Sur, uma vila surfista na Nicarágua


O sol já ameaçava dar lugar à lua quando cheguei a San Juan del Sur. Tinha saído do lago atitlan há exatamente 36 h. Atravessei as montanhas da Guatemala, jantei na a fronteira em El Salvador e esperei 5h na das Honduras. Não pensem que foi uma viagem monótona. Foi uma aventura com mais adrenalina do que o trekking que tinha feito uma semana antes. Quis viajar em chicken bus porque as alternativas, todas de luxo, obrigavam-me a pernoitar em San Salvador ou em San Pedro del Sur, duas cidades com taxas tão elevadas de homicídios que me deram vontade de fugir para bem longe! Percorri quase toda a Nicarágua para finalmente chegar a esta antiga aldeia de pescadores na costa sul do pacífico.


Quando saí do lago Atitlan não imaginava o que me esperava nesse dia. Numa luta contra o tempo em que pus o condutor de uma mini van a fazer manobras que levariam, sem dúvida, à proibição definitiva de conduzir, consegui finalmente chegar à estação de chicken bus da capital. Conhecem aqueles cartoons de autocarros amarelos que ficam com o dobro da altura devido à pilha de malas que carregam na parte superior? Esse era o meu, mas não levava só malas. Frigoríficos, móveis, cestas de legumes e cadeiras de cabeleireiro, eram só alguns dos objetos impensáveis que atravessaram fronteiras connosco. Quando entrei no autocarro, outro choque! Já estava preparada para os bancos escolares desconfortáveis sem local para colocar as pernas ou a cabeça. Não estava era à espera que estivesse apinhado de pessoas e coisas, com sacos plásticos de comida pendurados sobre as nossas cabeças. Agora imaginem que chegam ao único lugar vago e quem lá vai sentado é uma Nicaraguense da minha idade, tagarela, com um huski bebé no colo que levava para os dois filhos. O huski da minha amiga não era o único que viajava connosco, havia pelo menos mais dois amiguinhos de quatro patas e a julgar pelos sons estranhos que não percebi de onde saíam haveria também galinhas!


Eu e quatro argentinos éramos os únicos turistas.  No entanto, terra de gentes calorosas, os locais acolheram-me imediatamente como se fosse um deles! Revoltaram-se sempre que alguém tentou ganhar mais um pouco pelo fato de ser nitidamente turista, ajudaram-me a conseguir bons negócios no câmbio de moeda e aconselharam-me as melhores comidas. Em 36 horas fiz vários amigos, contrabandeei o huski pela fronteira da Nicarágua, escondida dos guardas por um hondurenho, fui a uma casa de banho com dois porcos enormes a olhar para mim e mudei 5 vezes de autocarro. O balanço da viagem? Muito cansativa, mas muito gratificante pelo fato poder ver em primeira mão uma realidade tão diferente da nossa.


Paraíso de surfistas, San Juan, transformou-se gradualmente de vila piscatória num ponto de paragem obrigatório para backpakers que viajam para Nicarágua. Já há umas centenas de anos que os habitantes locais estão habituados à presença de europeus e americanos. O pequeno Porto foi construído pelos colonizadores espanhóis para proteger os seus navios mercantes e mais tarde foi usado pelos americanos, que transportavam pedras preciosas e tripulantes de Nova Iorque para São Francisco. A vila é pitoresca e ainda não está descaracterizada pelo turismo, principalmente porque a Nicarágua foi palco de uma guerra guerra civil sangrenta e sofreu com uma grande instabilidade política e económica até há bem pouco tempo.


A costa do pacífico é possuidora de quilómetros incontáveis de extensos areais. O mar agitado, muito diferente da costa caribenha, é ideal para os amantes do surf. Só não tem mais adeptos porque a vizinha Costa Rica rouba-lhe todas as atenções. Contudo, quem vai a San Juan, velhos ou novos experimentam o desporto. Existem inúmeras escolas, a preços reduzidos que apelam ao instinto aventureiro de cada um. Cansada da minha viagem, com o meu instinto aventureiro no limite optei por visitar as praias mais bonitas e usufruir delas para demorados banho de sol. É possível fazer praia na enorme praia da vila, mas está cheia de barcos ancorados e a beleza das praias selvagens é incomparávelmente maior.


Para chegar às praias temos que comprar bilhete num dos camiões de caixa aberta que fazem o transporte. Agarrem-se bem, o caminho tem buracos enormes, todo em terra batida pelo meio de campos verdes com palmeiras e vacas monstruosas, maiores que os touros que vemos em Montalegre. As praias selvagens são imensas, e nomes como Maderas, Marsella, Majagual e La Flor, esta última ponto de observação de tartarugas valem a pena a visita. Para o país mais pobre da América Central fiquei impressionada com as vivendas de luxo que vi ao longo da costa. Parece-me que a riqueza neste país está muito mal distribuída, se tivermos em conta como vive a maioria da população.


San Juan tem um ambiente muito relaxado, com festas em bares junto à praias, muitas happy hours vantajosas e muitos mesmo muitos surfistas. Vêm um pouco de todo o mundo, mas os australianos estão aqui em força.  Se se hospedarem no hostel Casa de Olas, que aconselho vivamente, 99% dos hóspedes partilham da nacionalidade dos donos, a Carla e o Fred, um casal australiano reformado na casa dos 70. O Fred é sensacional, faz-nos sentir como se estivéssemos em casa. Podem-se fazer refeições no hostel, há um prato único por dia, e sentamo-nos todos juntos em volta do bar e à noite vêem-se filmes australianos na grande tela que o Fred coloca junto à piscina. O único inconveniente do hostel, mas também a maior qualidade é que se situa no topo de uma colina, a 3km do centro. A vista é incrível e o pôr do sol memorável, um espetáculo que se pode observar da piscina ou numa das várias cadeiras baloiço. Existe transporte gratuito para o centro de hora a hora.


Dicas:

Onde comer - O Bairro café tem uns hamburgers muito bons e é em frente a este restaurante que é o ponto de encontro de muitos transportes, quer para as praias quer para os hostels no topo da colina. No Simon says smothie bar podem provar smothies excelentes e também serve refeições. Não me recordo do nome do restaurante onde provei comida local, mas lembro-me que era perto do mercado e tinha frango a grelhar na rua. A refeição foi excelente.

P.s. A qualidade das fotos deixa a desejar uma vez que parti a minha máquina fotográfica no lago Atitlan. As poucas que tenho estão aqui e foram tiradas com o meu tablet.

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