domingo, 20 de abril de 2014

Lago Atitlan, um espelho de vulcões




"Lake Como, it seems to me, touches on the limit of permissibly picturesque, but Atitlán is Como with additional embellishments of several immense volcanoes. It really is too much of a good thing." by Aldous Huxley



Não posso comentar a primeira parte da citação do famoso escritor britânico, uma vez que nunca estive no lago Como, mas posso atestar que o lago Atitlán tem uma beleza singular. Não sei se será, como é apelidado por muitos, o “lago mais bonito do mundo”, mas tem com certeza, características únicas. Como o facto de estar rodeado por pitorescas vilas maias, tendo a maioria o nome dos apóstolos bíblicos. Ou os três vulcões que se espelham imponentemente numa imagem perfeita, formando um contorno impressionante do lago.  




A duas horas de distância da capital, Guatemala City, o lago oferece dias de lazer tranquilos, banhos de sol, trekking a vulcões, bem como exploração de uma cultura que, apesar do turismo crescente, está ainda profundamente enraizada nas coloridas aldeias maias. Foi o local que escolhi para recuperar do meu primeiro “burnout” em viagem. E o que é isso, perguntam vocês? Algo que nunca antes tinha sentido a viajar, nem nunca pensei sentir, mas afinal ele é real, ele existe. Um “burnout” significa, literalmente, esgotamento, apesar de eu achar que em português a palavra parece ter uma conotação bastante mais forte do que em inglês. Viajar por muito tempo, e principalmente viajar rápido, pode ser extenuante, quer física, quer psicologicamente. Apesar de descrente que isso me fosse acontecer li sobre o assunto antes de ir viajar, e ainda bem que o fiz, porque o meu trekking foi o desencadeador deste “burnout.


Tinha planeado ficar 2 dias no lago, e seguir rumo às Honduras, onde queria tirar o meu curso de mergulho na paradisíaca ilha de Utila. Mas o meu cansaço, aliado ao apelo relaxante da paisagem do lago fizeram-me ficar por uma semana. E talvez tivesse ficado mais, se não fosse pelos meus pais que me esperavam na Nicarágua.


As vilas maias são inúmeras e cada uma delas tem características próprias. Eu estive em 4: Panajachel, San Pedro la Laguna, San Marcos e San Juan la Laguna, que não poderiam ser mais diferentes.


San Juan la Laguna, um povo autêntico

Se ainda se lembram, terminei o trekking em San Juan, uma vila quase intocada pelo turismo, em que o quotidiano das pessoas locais é a principal atração. Este pequeno “pueblito” aloja indígenas particularmente aderentes às crenças e tradições dos seus antepassados, daí que a agricultura e as cooperativas de tecelagem sejam as principais fontes de rendimento da população. É ainda a vila menos visitada do lago, provavelmente também a mais pobre, e onde encontramos um retrato fiável da Guatemala.


San Pedro la Laguna, chill out

Guardo San Pedro carinhosamente no meu coração. Foi aqui que me alojei durante uma semana e foi esta a vila que mais explorei. San Pedro é vibrante, cheio de vida, numa mistura harmoniosa de jovens estrangeiros e pessoas locais que co-habitam pacificamente e me fascinaram. 



Uma parte da aldeia é turística, com vários hostels, alguns restaurantes, cafés e um ou dois bares, agências de turismo e escolas de espanhol, uma vez que, depois de Antígua este é o local preferido pelos estrangeiros para aprender a língua. Mas, percorremos algumas ruas estreitas e estamos no meio de mercados de frutas e legumes, de bancas de comidas, entre senhoras que vendem tamales envoltos em folha de bananeira e um pão de banana divinal em grandes cestas de verga.




Entalada entre a vila de San Juan e o Vulcão San Pedro, a aldeia tem vistas maravilhosas sobre o lago e a montanha. Tem um porto pitoresco com restaurantes a cair sobre o lago, e habitantes sorridentes.



A maior parte do turismo no lago Atitlán foca-se em Panajachel, sendo San Pedro famoso por atrair turismo mais jovem, principalmente de mochila às costas, conferindo-lhe um ambiente mais relaxado e animado. 



Há divertimento noturno, havendo diariamente pelo menos um bar aberto onde se encontram praticamente todos os viajantes e durante o dia a aldeia serve como base para explorar as vilas vizinhas. De barco, de tuk tuk, a cavalo ou a pé, apesar desta última não ser muito aconselhada devido à falta de segurança, é possível visitar as imediações. Recomendo o passeio a cavalo até ao sopé do vulcão San Pedro que é extremamente bonito e barato também (cerca de 2,5€ por hora).


A comida é a melhor que provei no país, se considerarmos o fator qualidade-preço. Há a comida típica que encontramos nos vendedores ambulantes e comida internacional de excelente qualidade em vários restaurantes. Esperem pagar entre 2 a 5€ por refeição e comer divinalmente.

Existem diversas opções de alojamento, e ouvi opiniões muito favoráveis de vários locais. Aconselho vivamente o hostel Zoola, é um dos melhores hostel onde já fiquei. O dono é israelita, pouco mais velho do que eu, com uma história de sucesso, de quem pouco tinha e neste momento é dono de dois fantásticos hostels na Guatemala, com projetos para abrir um novo em Amesterdão. A comida é fabulosa, criada pelo Zoola e típica de Israel e servida em mesas baixas, onde comemos sentados em almofadas coloridas ou deitados. Experimentem o “israeli combo”, uma combinação de pratos típicos, e o “hello to the queen”, uma sobremesa perfeita de banana e chocolate. Tem um bar que dá diversas festas por mês e concertos ao vivo e uma piscina com vista perfeita do lago. 


Neste local aconteceu-me algo caricato. O Zoola queria algumas fotos do hostel para publicidade e perguntou-me se poderia fazê-las. Uma vez que a Maria é fotógrafa e eu já trabalhei como manequim, aceitamos a proposta. Em troca tivemos um desconto de 50% no alojamento e refeições gratuitas durante a nossa semana de estadia, o que nos deixou no paraíso, pois o restaurante do hostel era, na minha opinião, o melhor de San Pedro.


Panajachel, compras e souvenirs

É a maior vila do lago, com melhores infraestruturas turísticas, mas também, na minha opinião, demasiado alterada por este. Aconselho uma visita de meio dia para percorrer a enorme feira de artesanato, couros e roupas. É o local ideal para fazer compras e levar lembranças do lago. A maior parte da feira é só isso mesmo, uma feira, mas escondidas entre as tendas existem algumas lojas com coisas fantásticas, como uma loja de couros que entrei, a Puro Utz Pin Pin, cheia de carteiras e sapatos lindos e originais e de onde a Maria teve de me arrastar, porque estava muito além das minhas possibilidades financeiras.


San Marcos, ioga e meditação

À medida que nos aproximamos de barco de San Marcos, começamos a ser invadidos por um sentimento de plenitude. Talvez isso se deva à energia positiva do local, que parece ser a principal atração de San Marcos. As casinhas originais construídas em estacas dentro da água embelezam a pequena vila e ao chegar ao porto deparamo-nos logo com hippies de cabelos compridos e calças largas à espera do próximo barco. A aldeia mais zen do lago oferece diversos refúgios para meditar e aulas de ioga, embrenhados na vegetação, e um parque natural onde se pode nadar no lago e fazer caminhadas na natureza.




Dicas:
-Alojamento: Hostel Zoola - quarto duplo por cerca de 10€(100Q); dormitório 4€(40Q)
-Restaurantes: The Clover, El Colibri
-Transporte: o barco de San Pedro para Panajachel custa cerca de 2€(20Q) ida e para San Marcos cerca de 1€(10Q)


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