domingo, 8 de dezembro de 2013

Semuc Champey, o tesouro escondido na selva guatemalteca



Na oitava hora de viagem, numa minivan ultra desconfortável, já nem as vistas magníficas que as montanhas da Guatemala proporcionam estavam a compensar a estrada esburacada que nos levou 45minutos a percorrer 15km.


Não vou negar que me questionei mais do que uma vez se um destino que não vinha na rota turística habitual, que descobri por acaso num blog e que muitos mochileiros com quem conversei desconheciam, valeria o percurso tão atribulado.


Contudo, o trajeto de Flores para Lanquin, a vila mais próxima de Semuc Champey é um retrato fiável do que é a Guatemala. Pequenas vilas de uma pobreza extrema na berma das estradas, autocarros escolares cheios de crianças nos seus uniformes, dezenas de carrinhas de caixa aberta, neste caso com grades laterais e superiores, muitíssimo semelhantes a gaiolas, mas que transportam homens, mulheres e crianças.



Apesar das condições duras em que vivem, os guatmaltecos têm constantemente um sorriso nos lábios, um adorno que utilizam tão assiduamente como os coloridos trajes tradicionais.


Lanquin é uma vila pitoresca que não tive oportunidade de explorar, com algumas opções de alojamento, sendo estas maioritariamente hostels.


Optei por alojar-me no o El Portal, um hostel constituído por diversos bungalows de madeira rodeados por bonitos jardins com vistas lindíssimas e relaxantes, pois ao contrário dos outros não se situa na vila de Lanquin, mas sim no coração da montanha, numa das margens do rio Cahabón.


Conta com um restaurante com pratos económicos e saborosos, onde criei amizade com as três cozinheiras maias que mal falavam espanhol, mas que adoraram a minha massa de legumes ( nunca tinham provado molho de soja). Os inconvenientes são o fato de ser tão isolado que a eletricidade funciona apenas por gerador das 18h às 22h, sendo que a partir desta hora a música no bar termina e convém ir para o quarto porque a escuridão só não é total devido ao céu estrelado.


Semuc Champey são um conjunto de piscinas naturais, verdes e azul Celeste, rodeadas de vegetação e de uma beleza extrema, que formam uma ponte sobre o rio Cahabón.


Este é um rio perigoso, com um caudal abundante, que desaparece ao chegar às piscinas, reaparecendo 300metros mais à frente. O local onde o rio desaparece debaixo da terra designa-se sumidero, que traduzido para Q'eqchi', o dialeto maia da região, resulta em Semuc Champey.


Em época de chuvas o rio assume uma força tal que pode invadir as piscinas, tornando-as perigosas, mas geralmente é possível nadar nelas sem preocupações. A vista panorâmica, e por sinal lindíssima, obtém-se através de um mirador, após uma hora de subida pela selva.


As piscinas naturais não são, contudo, a única atração do local. Para além da beleza natural que o cenário de montanha proporciona, é possível explorar as Kan'Ba caves, para os mais aventureiros, umas grutas nas quais caminhamos iluminados pelas velas que transportamos,  nadamos em águas escuras e escalamos paredes com quedas de água. Devo advertir, no entanto, que a segurança é um pouco duvidosa e não confiem no guia que nos diz que não precisamos de sapatos, se não quiserem vir, tal como eu, com os pés repletos de cortes. Ou então, realizar tubing numa zona mais tranquila do rio depois de um dia cansativo.


Semuc Champey representa aquilo que a maioria dos viajantes procuram: ser surpreendidos, descobrir algo novo que de alguma forma mexe connosco. E este é um desses lugares, que dá vontade de manter em segredo para que não se perca.