quinta-feira, 16 de julho de 2015

Os elefantes do Udawalawe National Park



Enormes olhos negros encaram-me. São simpáticos, doces até. Mas têm algo de enigmático. São diferentes dos elefantes domesticados com que me cruzei até agora. Talvez seja a sombra de liberdade que ali espreita. Talvez…
As orelhas desmesuradamente grandes movem-se com desenvoltura. Enxotam as persistentes moscas que insistem em não desaparecer. Ao nosso lado, um grupo de 10 elementos come pachorrentamente. De bebés com poucos meses, às matriarcas que comandam a manada. Um ou outro mais curioso, aproximam-se do jeep, mas rapidamente nos ignoram, provavelmente habituados à nossa humana.



Os pequeninos e desengonçados “dumbos”, deslocam-se com a mãe para todo o lado. Até os pequenos passos que dão, fazem-no sincronizados com os da progenitora, numa estranha dança que sacode os seus enormes traseiros. Esta imagem ternurenta é interrompida pelo ribombar de um trovão. O som assusta uma das mães, que, assumindo-nos culpados, investe contra nós. O nosso motorista revela-se habilidoso. Ainda nos estamos a aperceber da reação da progenitora, já ele se desloca a toda a velocidade em marcha atrás. Respiramos de alívio quando o elefante abranda após uma corrida de algumas dezenas de metros. O episódio aguça-nos os sentidos, e, com a recente descarga de adrenalina, prosseguimos o nosso safari, alerta. 



Estamos no Udawalawe National Park, um dos parques de vida selvagens mais famosos do país. Apesar disso, só encontramos 2 jeeps durante as 3h que o percorremos. Elefante, esses, vimos mais de uma centena.



Estima-se que existam 3000 elefantes selvagens no Sri Lanka, 500 dos quais vivem neste parque nacional. Assumem uma estatura inferior aos primos africanos, mas têm o porte bonacheirão típico destes animais. Apenas 10% da espécie tem presas de marfim, e talvez por isso, ou talvez pelo caráter pacifista dos budistas, não sejam alvos da caça furtiva.


Os elefantes desempenham um papel protagonista na história e cultura do Sri Lanka. Foram domesticados durante milénios para os mais diversos ofícios. Os domésticos são os mais comuns. Mas não os únicos. Há um trabalho, com uma rigorosa seleção que eleva o estatuto do elefante. Venera-o até. Transportar a relíquia do dente de Buda durante o cortejo no festival Esala Perahela em Kandy. Nessa cidade, durante uma visita ao templo do dente, pude admirar o porte majestoso de Raja, um dos elefantes mais venerados da Ásia, que transportou a relíquia do dente durante 37 anos e participou no festival 50. Após a sua morte foi embalsamado e encontra-se em exposição.




Os elefantes são os protagonistas, mas não são as únicas personagens que habitam estes hectares. Crocodilos e búfalos, para meu espanto, nadam pacificamente lado a lado. Pavões de cores garridas contrastam com o verde luxuriante e aves endémicas rasam os lagos.





Quando o safari chega a meio, paramos junto a um enorme lago. Só aqui nos é permitido sair do jeep. Já se aproxima o pôr do sol, pintando a paisagem de um tom alaranjado. Estamos sozinhos, rodeados de majestosas criaturas, em comunhão com a natureza, no seu habitat natural. A sombra de liberdade que lhes adivinhei, também hoje passou pelos meus olhos.