sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Desabafos em Mykonos


Uma das ilhas mais badaladas do mediterrâneo, conhecida pelas noites intermináveis e as festas que rompem a madrugada já foi uma terra pobre, uma ilha de pescadores que vivia do mar e para quem o turismo era algo distante. Só na década de 60 é que Mykonos despertou a atenção de atores e artistas e com eles, também o mundo voltou os olhos para a ilha.


Infelizmente (para alguns, eu incluída no grupo), Mykonos tornou-se demasiado famosa, e as ruelas labirínticas que tanto a caracterizam e que em tempos foram úteis para a proteção da cidade perderam o aspeto desgastado do tempo. Em pouco tempo a ilha passou de uma das mais pobres da Grécia, à mais rica, dando a pesca e a agricultura, lugar ao turismo.


As ruas estão lá, as casas continuam brancas como a neve e as portas e janelas azuis da cor do céu. Mas, as habitações que tresandavam a peixe e à gente da terra foram polidas e agora vendem joias, ou souvenirs, ou foram transformadas em bares e discotecas. E os degraus, tão típicos, estão demasiado brilhantes, como se tivessem sido envernizados. Os velhos das soleiras das portas foram embora, e os poucos que ficaram queixam-se que os netos não lhes seguiram as pisadas e trocaram o mar e o campo pelos chorudos montantes que advêm do aluguer das casas. Os velhos das soleiras das portas foram-se embora, mas agora, as ruas estão cheias de novos, de todas as nacionalidades, que saem aos milhares de enormes barcos que distorcem a paisagem e que vêm à procura da magia de Mykonos. No porto, já não a encontram, nem em praias apinhadas de iates e pessoas que começam as festas cedo e onde o cheiro de demasiada gente junta afugenta o viajante que procura algo mais.



Mas isto são só desabafos, de quem gostaria de ter conhecido esta ilha há 50 anos atrás. Não me interpretem mal, Mykonos é uma ilha com charme, principalmente na temporada baixa, quando a afluência de turistas é pouca. E tem inúmeros locais que merecem uma visita. Com isto quero dizer que recomendo a viagem, mas não posso ficar indiferente à forma como a Grécia geriu o enorme turismo da ilha: preservou as fachadas mas deixou que a alma e as tradições se perdessem.


O porto e Chora, o coração da cidade, apesar de serem apenas uma fachada do que um dia já foram, continuam a ter uma beleza intemporal, onde ainda é com prazer que calcorreamos os seus labirintos, em que cada artéria nos leva por um caminho novo e desconhecido. Os edifícios centenários que constituem Little Venice, também são uma visita memorável, onde o pôr do sol é magnifico, e os moinhos no topo da colina tornam a imagem digna de postal.


Ainda é possível ver uma parte da ilha mais genuína e menos transformada que o porto: basta alugar uma mota e conduzir pelo meio das montanhas áridas em direção ao norte ou ao este, onde os acessos são mais difíceis, mas as praias, as casas típicas e as vistas recompensam. Aqui, longe das multidões, ainda podemos encontrar um pouco da ilha original, aqui, ainda se respira o que imagino que seria Mykonos há 50 anos atrás.



domingo, 4 de janeiro de 2015

Sri Lanka, um país de muitos nomes




“As armas e os barões assinalados
que, da ocidental praia Lusitana,
por mares nunca de antes navegados
passaram ainda além da Taprobana,
em perigos e guerras esforçados,
mais do que prometia a força humana,
e entre gente remota edificaram
novo reino, que tanto sublimaram”
Canto I, estância 1
Os Lusíadas, Luís de Camões

Taprobana, Ceilão ou Sri Lanka. Este país de muitos nomes e de história milenar assemelha-se de uma forma muito original a uma gota de água, ou há quem diga que se trata de uma lágrima, que corre pela face da Índia e da qual se separou, isolando-se no oceano Índico.


Inicialmente designada de Taprobana pelos gregos e romanos, a ilha que Camões cantou no famoso livro “Os Lusiadas”, em que o poeta enaltece os portugueses pela sua coragem de descobrir um mundo muito para além deste país longínquo e de navegar “por mares nunca antes navegados”, tem uma história riquíssima que remonta a vários séculos antes de cristo.


Os cingaleses já a habitam desde o seculo VI a.c., e há vestígios de trocas comerciais com várias civilizações do ocidente e oriente: gregos, romanos e árabes. Os primeiros europeus a colocar lá a sua bandeira foram os portugueses, em 1505, liderados por Lourenço de Almeida, nome familiar a muitos cingaleses. Se passearmos pelas ruas de Colombo, não é raro vermos nomes de lojas com apelidos lusitanos, como Silva ou Fernandes. Nem é raro percebermos algumas palavras nas suas conversas, como sapato, câmara, lanterna e meia, deixadas pelos nossos antepassados. Apesar de terem fundado a atual capital, a cidade de Colombo, a nossa ocupação durou menos de um século, tendo os holandeses e depois os ingleses colonizado a ilha. O reino do Ceilão só obteve a independência dos ingleses em 1948.


Esta ilha tem todos os ingredientes necessários para ser um paraíso: gentes afáveis com uma tolerância cultural e religiosa inigualáveis, montanhas verdejantes, parques nacionais pejados de vida selvagem e praias com coqueiros e águas azuis turquesa. Apesar disto, o Sri Lanka esteve imerso numa guerra civil que durou 26 anos e só terminou em 2009, o que deu tão má fama a este país e que ainda hoje leva a que muitos turistas tenham receio de o visitar.


Apesar de ter apenas dois terços do território de Portugal, tem o dobro da nossa população, sendo esta maioritariamente cingalesa, mas também composta por etnia tamil e muçulmanos. Esta liberdade e tolerância religiosa são uma das características mais fascinantes do país: a maioria da população é budista, mas igrejas encontram-se lado a lado com mesquitas, templos hindus e budistas e cidades de peregrinação, como Kataragama, são comuns a todas as religiões e etnias.


Apesar do reduzido número de turistas, este pequeno país tem muito para oferecer aos visitantes. Lugares como Anuradhapura e Polonnarwa, as antigas capitais da taprobana, permanecem locais culturais e religiosos que atraem milhões de habitantes, tal como Kandy, onde se realiza, em Agosto, o Esala Perahera, o maior festival religioso do país. Os parques nacionais, cujas estrelas principais são os elefantes e os leopardos são atrações a não perder pelos amantes de vida selvagem, e para os mais aventureiros a longa subida ao Adam’s Peak, uma montanha de 2243 metros que é local de peregrinação de hindus, budistas e muçulmanos, torna qualquer viagem memorável. As estreitas faixas de areia branca que rodeiam Matara são o local perfeito para descansar, enquanto longas praias como a de Mirissa já têm um ambiente descontraído e jovem, com bares e restaurantes de boa comida e surf à mistura. E se as praias não são o que motivam alguns turistas a viajar, as montanhas cobertas com plantações de chá, entremeadas com enormes cascatas e as pitorescas cidades coloniais inglesas como Nuwara Eliya, definitivamente irão conquistar qualquer visitante.