“As armas e os barões assinalados
que, da ocidental praia Lusitana,
por mares nunca de antes navegados
passaram ainda além da Taprobana,
em perigos e guerras esforçados,
mais do que prometia a força humana,
e entre gente remota edificaram
novo reino, que tanto sublimaram”
Canto I,
estância 1
Os Lusíadas,
Luís de Camões
Taprobana, Ceilão ou Sri Lanka. Este país de muitos nomes e
de história milenar assemelha-se de uma forma muito original a uma gota de água,
ou há quem diga que se trata de uma lágrima, que corre pela face da Índia e da
qual se separou, isolando-se no oceano Índico.
Inicialmente designada de Taprobana pelos gregos e romanos, a
ilha que Camões cantou no famoso livro “Os Lusiadas”, em que o poeta enaltece
os portugueses pela sua coragem de descobrir um mundo muito para além deste
país longínquo e de navegar “por mares nunca antes navegados”, tem uma história
riquíssima que remonta a vários séculos antes de cristo.
Os cingaleses já a habitam desde o seculo VI a.c., e há
vestígios de trocas comerciais com várias civilizações do ocidente e oriente:
gregos, romanos e árabes. Os primeiros europeus a colocar lá a sua bandeira
foram os portugueses, em 1505, liderados por Lourenço de Almeida, nome familiar
a muitos cingaleses. Se passearmos pelas ruas de Colombo, não é raro vermos
nomes de lojas com apelidos lusitanos, como Silva ou Fernandes. Nem é raro
percebermos algumas palavras nas suas conversas, como sapato, câmara, lanterna
e meia, deixadas pelos nossos antepassados. Apesar de terem fundado a atual capital,
a cidade de Colombo, a nossa ocupação durou menos de um século, tendo os
holandeses e depois os ingleses colonizado a ilha. O reino do Ceilão só obteve
a independência dos ingleses em 1948.
Esta ilha tem todos os ingredientes necessários para ser um
paraíso: gentes afáveis com uma tolerância cultural e religiosa inigualáveis,
montanhas verdejantes, parques nacionais pejados de vida selvagem e praias com
coqueiros e águas azuis turquesa. Apesar disto, o Sri Lanka esteve imerso numa
guerra civil que durou 26 anos e só terminou em 2009, o que deu tão má fama a
este país e que ainda hoje leva a que muitos turistas tenham receio de o
visitar.
Apesar de ter apenas dois terços do território de Portugal,
tem o dobro da nossa população, sendo esta maioritariamente cingalesa, mas
também composta por etnia tamil e muçulmanos. Esta liberdade e tolerância
religiosa são uma das características mais fascinantes do país: a maioria da
população é budista, mas igrejas encontram-se lado a lado com mesquitas,
templos hindus e budistas e cidades de peregrinação, como Kataragama, são
comuns a todas as religiões e etnias.
Apesar do reduzido número de turistas, este pequeno país tem
muito para oferecer aos visitantes. Lugares como Anuradhapura e Polonnarwa, as
antigas capitais da taprobana, permanecem locais culturais e religiosos que
atraem milhões de habitantes, tal como Kandy, onde se realiza, em Agosto, o Esala Perahera, o maior festival religioso
do país. Os parques nacionais, cujas estrelas principais são os elefantes e os
leopardos são atrações a não perder pelos amantes de vida selvagem, e para os
mais aventureiros a longa subida ao Adam’s
Peak, uma montanha de 2243 metros que é local de peregrinação de hindus,
budistas e muçulmanos, torna qualquer viagem memorável. As estreitas faixas de
areia branca que rodeiam Matara são o local perfeito para descansar, enquanto longas
praias como a de Mirissa já têm um ambiente descontraído e jovem, com bares e
restaurantes de boa comida e surf à mistura. E se as praias não são o que
motivam alguns turistas a viajar, as montanhas cobertas com plantações de chá,
entremeadas com enormes cascatas e as pitorescas cidades coloniais inglesas como
Nuwara Eliya, definitivamente irão conquistar qualquer visitante.
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