domingo, 29 de maio de 2016

Um guia pela cidade e história de Berlim



Uma cidade do mundo

Berlim é a cidade com maior preponderância no desenrolar da Historia Mundial do seculo XX. Os sinais desse protagonismo são visíveis na cidade quer na evocação do passado quer na atualidade.
Essa realidade a dois tempos é facilmente constatada, em vários dos seus principais pontos de interesse a visitar e nas vivências do quotidiano.
O poder económico, já patente no seculo XIX, permitiu-lhes aceder através da promoção de escavações arqueológicas extensas no Médio Oriente e posterior montagem das milhares de peças encontradas, a estruturas impressionantes de civilizações ancestrais 600 a 700 anos antes de Cristo e que estão expostas no Pergamo Museum, uma das prioridades em qualquer programa na cidade. A exposição de estruturas como a Porta de Ishtar e a Via Processional (Babilonia sec.VI A.C.), o Altar de Pergamo, a Porta de Mercado de Mileto e o interior do Palácio Assírio (sec.XII A.C.) pela sua beleza e dimensão, são hoje difíceis de imaginar para a altura da sua construção, revelando civilizações já muito desenvolvidas. Este museu está situado na Ilha dos Museus, Património da Humanidade, no centro de Berlim, ideia concebida em 1810 para albergar as coleções de arte e arqueologia reais da Prússia e com vários museus construídos entre 1830 e 1930. São de destacar o Neues Museum que inclui o Agyptisches Museum (onde se encontra o famoso busto da Rainha Nefertiti) e o Altes Museum (com a coleção de Antiguidades Clássicas) onde tivemos oportunidade ver uma exposição temporária sobre a Batalha de Troia com estátuas de mármore restauradas de várias figuras de guerreiros da época. Nesta ilha encontramos ainda a Catedral de Berlim, com uma rica ornamentação interior e o possibilidade de subir à base da cúpula e ter uma panorâmica de 360º sobre aquela parte da cidade.



Em contraste, uma das mais recentes obras arquitetónicas e para mim a mais interessante estrutura edificada em que estive até hoje, a Cúpula do Reichstag/Bundestag representa a modernidade e a capacidade de realização da Alemanha atual; é uma obra do arquiteto Norman Foster que restaurou o edifício entre 1997 e 1999. Por toda a cidade é possível observar obras de arquitetura contemporânea dos maiores e renomeados arquitetos mundiais que foram chamados para a reconstrução dos edifícios parcialmente destruídos durante a Guerra ou para reprojectar novas áreas em zonas centrais completamente arrasadas.



Durante a nossa visita a Berlim, em várias ocasiões, pudemos comprovar o poder e a atração mundial que a cidade e o país de que é a capital têm, não só político e económico mas ao nível da população em geral e o seu reconhecimento como padrão de desenvolvimento e democracia:
  - A multiplicidade de nacionalidades e raças a viver e a trabalhar na cidade;
  - Uma manifestação de centena e meia de emigrantes Etíopes em frente à Porta de Bradeburgo seguida de marcha pelas ruas mais próximas, chamando à atenção para a prisão arbitrária e assassinato de estudantes no seu país por protestarem contra a ditadura do seu Presidente.
 - Um jovem vietnamita, empregado de mesa de um excelente restaurante vegetariano da sua nacionalidade, e que estava já há cinco anos em Berlim a estudar.
  - As notícias na televisão que mostravam centenas de refugiados de múltiplas nacionalidades na Turquia, numa manifestação gritando Merkl, Merkl, Merkl….



Berlim não nos deixa esquecer os horrores do Holocausto 

Voltando ao seculo XX, apesar da destruição quase completa da cidade durante a 2ªGrande Guerra e do grande investimento a todos os níveis realizado na Reunificação da Alemanha, são inúmeros os locais, museus e exposições que lembram, ou antes não deixam esquecer, o que foram muitos dos eventos mais significativos da Historia Mundial, muitos deles de um horror inqualificável e ainda hoje difíceis de explicar.
   Destacaria aqui Topografia dos Terrores, impressionante exposição sobre o surgimento do nazismo e das suas teorias de supremacia e segregação raciais, levadas à prática numa dimensão de extermínio sistemático de judeus, russos (eslavos), ciganos, opositores alemães ao regime e comunistas, protagonizada pelas polícias especiais e secreta do Terceiro Reich, as SS e a Gestapo entre 1933 e 1945; este Museu, foi erguido no local onde, antes se encontravam os edifícios sede dessas polícias e de vários dos mais importantes Ministérios do regime e de que restaram apenas as fundações pois foram completamente arrasados pelos bombardeamentos dos Aliados; encontramos também no seu exterior uma pequena parte do Muro que foi preservada para lembrança.



  Sobre o povo Judeu em particular, a sua cultura, evolução e protagonismo na História, incluindo as perseguições de que foram vitimas desde o seculo XI (pelos cristãos e cruzados, acusados de serem responsáveis pela morte de Jesus Cristo) até ao seculo XX, aconselho vivamente uma visita ao Museu Judaico que para alem das exposições em si mesmas é de uma arquitetura interessantíssima combinando um edifício antigo com uma estrutura recente em vários eixos. Um outro espaço que relembra o Holocausto Judeu é o Holocaust-Denkmal (Memorial aos Judeus Europeus Mortos), um conjunto de centenas de campas de até 2m altura, que simbolizam os 6 milhões de judeus e outros assassinados nos campos de concentração e que é facilmente visitável pois situa-se muito próximo da Porta de Bradeburgo / Pariser Platz, entre esta e a Potzdamer Platz as duas praças mais importantes e centrais da cidade.


Uma outra importante visita a realizar é à Kaiser Wilhelm Gedachtnis Kirche, um dos marcos mais famosos de Berlim, combinando a torre da igreja de 1895 que sobreviveu aos bombardeamentos, com dois edifícios de arquitetura moderna em tijolos vidrados azuis-escuros sendo um deles a Igreja, com uma figura dourada de Cristo suspensa sobre o fundo dos vitrais, e o outro uma Torre Sineira de 53m altura; as ruinas da Torre, com a alcunha de “dente furado”, integram mosaicos e peças da antiga igreja bem como uma exposição sobre a história da mesma.


Um muro, dois mundos na mesma cidade

Também no Pós-guerra Berlim desempenhou um papel central na história subsequente até ao final do seculo; sendo a capital do III Reich, foi a ultima cidade a capitular, tendo sido invadida de Leste pelo exército Vermelho da Rússia e pelo Ocidente pelas tropas Aliadas lideradas pelo exército dos Estados Unidos. A cidade foi dividida em duas assim como a Alemanha em si, cada parte pertencendo a esferas de influência mundiais diferentes durante um período de tensões que se chamou de Guerra Fria e que teve o seu auge na cidade, em 1961, com a construção do Muro iniciada durante a noite e que dividiu famílias e amigos. A construção foi realizada pela chamada Republica Democrática Alemã, sob a esfera soviética, para estancar a saída de população, pois até essa data 3,5 milhões de alemães orientais tinham fugido para ocidente sobretudo através da fronteira em Berlim. Mais de cem pessoas morreram, nos anos seguintes, ao tentar atravessar o Muro que consistia em 66 km de gradeamento com torres de guarda, atiradores e cães na parte Leste que matavam quem tentasse passar. O Muro perdurou até Novembro de 1989, quando pela primeira vez os Berlinenses puderam reunir-se com celebrações na Porta de Bradeburgo seguindo-se um processo de reunificação da Alemanha durante o qual, em 1991, Berlim voltou a ser declarada capital. Desse período, existem vários memoriais ao longo da cidade que foram preservados e que são interessantes para uma visita de passagem:



  - Check Point Charlie – este era um dos poucos pontos de passagem entre as duas partes da cidade, tendo um posto de controlo aliado com esse nome; atualmente tem uma réplica desse posto e uma exposição sobre a história do Muro e das múltiplas tentativas e meios de fuga utilizados.

  - East Side Galery – uma parte do Muro com 1,3km junto ao rio Spree foi pintada em 1990 por artistas de todo o mundo, tornando-se uma obra de arte única.

  - Memorial às Vitimas do Muro – em frente ao Reichstag existe um memorial com cruzes contendo os nomes de pessoas que morreram ao tentar atravessar o Muro que passava muito perto daqui.



 Berlim volta a ser Una 

 A Reunificação trouxe uma transformação enorme à cidade, com a construção de zonas e edifícios imponentes dos maiores arquitetos mundiais como Hans Kolhoff e Renzo Piano e em contínuo crescimento. O exemplo mais notório é a Potsdamer Platz que é o centro da nova cidade que atrai alemães e turistas e onde se destaca o Centro Sony com uma estrutura em cúpula a cobrir uma praça rodeada de cinemas, cafés e restaurantes; muito interessante é o enquadramento dado à Sala do Imperador do antigo Grand Hotel Esplanade e cujas ruinas foram preservadas no meio desta modernidade fazendo parte do novo Café Josty; uma outra curiosidade é o Passeio da Fama de Berlim, com um pavimento vermelho e estrelas de cinema alemãs como Marlene Dietrich, Fritz Lang ou Romy Schneider.
Muito perto da Potsdam está construída a Kulturforum, que consiste num complexo de Museus de Arte de que destacaria a Gemaldegalerie, com algumas das maiores obras-primas da pintura europeia, e a famosa sala de concertos da Orquestra Filarmónica de Berlim.


Relativamente perto encontramos uma outra zona renovada com uma enorme Avenida (Kurfurstendamm) de lojas e centros comerciais muito interessantes. Nesta zona destacamos, sem qualquer dúvida as Galerias KaDeWe a merecer uma visita sobretudo pelas suas montras exteriores, as marcas de luxo no rés-do-chão (Dior, Chanel, YSL, etc) e na minha opinião o sexto piso com a área de alimentação. Estas galerias existem desde 1907, num edifício com 60mil metros quadrados de área (equivalente a nove campos de futebol) com cerca de 380 mil produtos e é o maior centro de consumo da Europa depois do Harrods em Londres. No sexto andar encontramos um grande mercado gourmet de luxo com produtos e especiarias de todo o tipo e das mais variadas partes do mundo. Tudo o que possamos imaginar numa área de alimentação com produtos da maior qualidade está lá, conjugando a exposição dos produtos com espaços, tipo bar, onde as pessoas se podem sentar à volta e degustar o que entenderem observando o cozinheiro a confeciona-los. Dependendo da área de exposição podemos ter comida alemã, italiana, asiática, sushi, argentino, marisqueira, padaria, chocolataria, etc.. e o mais surpreendente para mim um bar da Moet Chandon cheio de gente em animada cavaqueira.



António Monteiro

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