quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O sul garifuna do Belize



O Belize é unbelizable! É o trocadilho usado pelos locais, que já se tornou o slogan do país, e é o sentimento que me acompanhou durante os dias que lá passei. Com apenas 300 mil habitantes, e quatro vezes mais pequeno que Portugal, o Belize é um destino que agrada a todos. Tem as praias paradisiacas nas famosas Cayes, as ilhas ao longo da sua costa, uma barreira de coral que move mergulhadores de todo o mundo, florestas tropicais recheadas de vida selvagem, onde se podem observar feras como jaguares, vilas piscatórias pitorescas, belas ruínas maias e grutas para explorar.


Mas, o que mais me atraiu no país foi a mistura de raças enorme, a co-habitar pacificamente, num espaço tão reduzido. Os Belizenhos são os descendentes de espanhóis, cruzados com indígenas, os maias puros que ainda lá existem, são ingleses que criaram raizes na ex-colónia, são americanos expatriados que procuram uma mudança no estilo de vida e têm a facilidade de não terem que aprender uma nova língua, são chineses, que parecem multiplicar-se, mas que ainda não percebi como lá foram parar. E são o povo garifuna, negros descendentes de escravos africanos que naufragaram no Caribe há mais de 400 anos, e se alojaram no Sul.


Quem vem pela caótica capital, Belize city, e se dirige ao Sul do país, pode pensar perfeitamente que se encontra em África. Uma grande parte do trajeto, feito nos característicos chicken bus, que mimetizam os autocarros escolares americanos, passa por montanhas verdejantes, florestas tropicais e centenas de bananeiras, um cenário mais exuberante na hummingbird highway, a famosa estrada onde se podem observar beija-flores.


O sul do Belize é maioritariamente garifuna. Os seus habitantes, muito diferentes em cor e aspeto da restante população ainda se mantêm fiéis à sua cultura. Das várias cidades do Sul, Placencia é a mais turística, mas também, provavelmente, a mais bonita.


Optei pela pitoresca Hopkins, uma pequena vila piscatória, menos conhecida e mais tradicional, onde toda a gente se cumprimenta e onde a vida ainda corre de acordo com as tradições garifunas. Com a exceção das praias, não há muito a fazer, contudo, se for fim de semana pode-se ir a um dos vários bares assistir à punta dance, a dança mais popular do Belize, ou aproveitar os dias para ter lições de batuque, um instrumento que pequenos e grandes sabem tocar. É possível provar pratos típicos, como peixe frito com feijão e bun, um pão doce, num dos vários restaurantes familiares, ao longo da pequena rua, quase sem carros, em que a maioria dos transeuntes são crianças.


A única forma de ir para Placencia, ou Hopkins, em transportes públicos, a partir do norte do país, é a fazer paragem em Dangriga, uma cidade original e sem turistas. Esta serve de base às cayes, como tobacco caye, mas onde aconselho passar umas horas. Não existem atrações turísticas, mas é possível observar  o quotidiano dos seus habitantes: grupos junto à praia a construir batuques, pescadores a estripar o peixe na margem do rio, onde pequenas famílias fazem picnics, e crianças, nos seus uniformes perfeitamente engomados a regressar da escola. Todos os locais estão ansiosos por conversar, o que é uma ótima oportunidade para os mais curiosos obterem mais informações sobre o estilo de vida na cidade ou sobre a cultura garifuna.



Dicas:

Como ir - Não há autocarros diretos de Belize city para Hopkins. É necessário apanhar um da capital para Dangriga, mas que faz paragem em Belmopán, que custa 10B e demora cerca de 3h. De Dangriga para Hopkins saem 2 autocarros diários, um às 12h e outro às 17h. O trajeto demora 45m e custa 5B.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Caye Caulker, ao ritmo do reggae



Os sons da Jamaica há muito que se enraizaram na ilha! É possível ouvir a música durante todo o dia e grande parte da noite a sair dos bares, restaurantes, casas, lojas, ou rádios que os locais, réplicas do Bob Marley, transportam para todo o lado. Ao contrário de Ambergris Caye, a maior ilha do Belize, mais procurada por famílias ou casais que buscam conforto e tranquilidade, Caye Caulker é um famoso destino e paragem obrigatória para quem viaja de mochila às costas.


"Go slow" é o lema, e com o qual nos deparamos várias vezes ao longo das ruas, a fazer a vez dos sinais de trânsito. É algo, que como o reggae, vai a pouco e pouco tomando conta de nós, deixando-nos enebriados, como que entorpecidos pelo ritmo da ilha. O trânsito são peões e também aqui foram adoptados os carros de golf como forma de transporte, na minha opinião desnecessáriamente porque é possível chegar de um extremo ao outro da ilha em apenas 20 minutos de caminhada. Em algumas prependiculares da principal "avenida" pode ver-se o mar azul dos dois lados, o que nos dá uma idéia das suas dimensões.


 Os dias passam lentamente e a vontade de fazer o que quer que seja não existe, apenas de permanecer preguiçosamente debaixo de alguma sombra à espera que as horas passem. O "split" é um bom local para o fazer, e, como o nome indica, é onde a ilha se dividiu em duas. Dois furacões, em intervalos de dois anos foram responsáveis pelo fenómeno, interpondo o mar entre as duas partes, permitindo agora a passagem apenas de barco ou a nado. É aqui que os turistas e nativos passam os dias, onde há um deque para, como lagartos, se estenderam ao sol, tendo apoio de um bar/restaurante que passa reggae todo o dia, onde se come um razoável peixe grelhado e onde não se pode perder a happy hour, na qual os cocktails passam para metade do preço.


Os domingos são particularmente interessantes, uma vez que todos os habitantes da ilha se reúnem no mesmo local. As crianças brincam numa piscina natural, uma zona menos profunda junto ao deque, enquanto os adultos se juntam no bar, a desfrutar o clima das Caraíbas.


Se o dia é passado no "slipt", os fins de tarde exigem uma caminhada de cinco minutos à parte oeste da ilha para admirar um dos pôr do sol mais magníficos a que já assisti. Sentado num dos vários deques que servem de suporte aos pequenos barcos de pescadores, observa-se um céu pintado de cores pastel, cores suaves que transitam num espectro de tons ténues. A noite, na zona menos iluminada da ilha, também é um fenómeno imperdível. Devido à falta de luz o céu cobre-se por um manto de pontos luminosos, e é possível distinguir facilmente diversas constelações, como reaprendi com o Alon e o Nico, dois israelitas, oficiais da marinha, e como tal conhecem o céu como a palma da mão, que passaram comigo cinco dias inesquecíveis na ilha e me trataram como a sua pequena irmã mais nova.


Em Caye Caulker conheci outra pessoa que marcou a minha viagem: a Maria, uma fotógrafa espanhola, que me acompanhou nas 3 semanas seguintes, e com quem vivi aventuras incríveis que irei contar mais tarde.


Apesar de estarmos em época baixa, aos fins de semana a ilha ganha vida. As noites enchem-se de pessoas pelas ruas, principalmente locais à porta dos 2 únicos bares, I&I e Oceanside. Como o primeiro fecha à 1h, depois desta hora, toda a gente se desloca para o segundo, e foi aqui que vi pela primeira vez, as danças garifunas, coreografias com movimentos de anca anatomicamente impossíveis e com um teor sexual bastante elevado, que nos deixou aos quatro de queixo caído. Tentei, infrutiferamente, imitá-los, mas rapidamente percebi que não estou geneticamente programada para tais movimentos.


Existem diversas opções para quem quer permanecer ativo, sendo as mais procuradas o snorkeling e o mergulho, uma vez que o Belize possui a segunda maior barreira de corais do mundo, logo depois da Austrália, com cerca de 300km de extensão. Uma das atrações mais procuradas, mas também a mais cara, é o Blue Hole, um buraco azul com cerca de 2km de comprimento e 145m de profundidade, que é possível ver-se do espaço. Optei por uma situação mais económica, um dia de snorkeling, que passa em locais como Hol Chan, Shark-Ray Alley, e Coral gardens onde se pode nadar com tubarões, raias gigantes, tartatugas e manatins.

By Alon Zehngut

A lagosta é o prato típico da ilha e é cozinhada de uma forma deliciosa a um preço que não se encontra na Europa, existindo até, durante Junho, o Festival da mesma, altura em que a ilha se encontra a abarrotar. Os barbecue também são algo que quando se está na ilha se tem que provar, havendo geralmente opções de marisco, frango, vaca e porco, acompanhados de doces sumos naturais.



Dicas:

Como ir - de Belize city, a capital, é possível apanhar um táxi water, por 7,5€, que demora cerca de 30min a chegar à ilha. A partir do México, é necessário ir até Chetumal, cidade fronteiriça, e apanhar um taxi water que custa cerca de 33,75€, mais 7,5€ de taxas portuárias, e demora 2h30, com paragem de 30min em San Pedro, em Ambergris Caye.

Onde ficar - não existem resorts em Caye Caulker, apenas hotéis, pensões, hostels ou guest houses bastante simples e a preços económicos. Yumas house é um hostel maravilhoso por 27B(dólares do Belize) por noite em dormitórios de 4pessoas; o tropical paradise é um hotel relativamente confortável com quartos privados a partir de 45B por noite.

O que fazer - snorkeling tours custam cerca de 120B, com a exceção do Blue Hole, em que estas passam para o dobro do preço.

Restaurantes e bares - dois bons locais para apreciar a lagosta são o tropical paradise, ou o Rosie`s, variando os preços entre 10 e 15€. O La Cubana serve um bom barbecue de vaca, porco e frango por um preço bastante acessível, cerca de 4,5 € e bons pequenos almoços. O I&I e o oceanside são os únicos bares na ilha, onde aconselho a provar as bebidas locais, como pantle ripa ou piña colada, opções muito mais económicas do que os cocktails a que estamos acostumados.
(1€=2,74B)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Tulum, a pérola da Riviera Maia




Famosa pelas praias paradisíacas, pelas ruínas maias sobre o mar e pelos cenotes, Tulum tem um encanto especial.
É uma cidade turística, é certo, mas ainda não perdeu o brilho de pequena vila. Tem ainda as pessoas prestáveis, que sorriem sempre ques lhes é requesitada ajuda: o funcionário do super mercado que perdeu 15 minutos a explicar-me como escolher as meloas mais maduras, o empregado de uma loja de souvenirs que deixou a loja para me ajudar a encontrar uma caixa multibanco, ou a senhora que me alugou  a bicicleta que prolongou o tempo de aluguer da mesma sem me cobrar nada por isso.

É possível notar, contudo, reacções completamente diferentes dependendo da língua que usamos: habituados a americanos, os clientes mais assíduos da riviera maia, se falamos em inglês, os mexicanos tomam-nos por gringos e tentam vender-nos tudo o que conseguirem. Se, pelo contrário, tentamos aborda-los na sua língua, tornam-se pessoas mais abertas, ficam visivelmente contentes pelo esforço que estamos a fazer e ajudam-nos a evitar armadilhas turísticas. Uma situação que raramente falha é perguntar-lhes, não o restaurante que aconselham, mas qual o seu preferido ou o que costumam ir mais frequentemente, funciona como um certificado do tripadvisor local para comida boa e barata.


O centro de Tulum consiste numa avenida, com cerca de 2 ou 3 km recheada com tudo o que um turista precisa: restaurantes locais e internacionais, pensões, minimercados, casas de câmbio, agências de turismo e lojas de souvenirs. Esta, é cortada por diversas prependiculares onde se começam a vislumbrar casas, embrenhadas na vegetação.


No centro o alojamento é mais económico e é também onde se encontram os hostels, mas é possível encontrar luxuosos resorts ao longo das praias. Apreciar o fim de tarde num deles enquanto se toma um cocktail é um must do em Tulum. Estive no Papaya Playa Project e recomendo. Tem um ambiente relaxante, com música tranquila e sofás coloridos, onde apetece espreguiçar acompanhado de um bom livro. Foi onde dei os primeiros passos no Yoga, com a Penelope, uma americana com quem passei os meus dias na cidade, que já pratica o desporto há bastantes anos e que tentou, infrutiferamente, dar-me umas lições. O resultado foi dores nas costas, risos da assistência, os hóspedes do hotel, e banhos no mar até escurecer.


A melhor forma de conhecer a cidade é a pedalar. As distancias entre o centro e as atrações são sempre superiores a 2km, portanto alugar uma bicicleta é o ideal. Existem vias próprias para ciclistas e os percursos valem a pena. Para quem não está para trabalhos, existem táxis ou coletivos, opção mais económica, utilizada pelas pessoas locais, que consiste em mini-vans que vão apanhado os passageiros pelo caminho.


Se as praias douradas são o que move grande parte dos turistas, as muralhas que envolvem a antiga cidade maia não ficam atrás. Com uma vista estonteante, as ruínas encontram-se sobre um mar azul turquesa, com palmeiras e longas extensões de verdes a preenchê-las. Concluo que os maias, para além dos conhecimentos avançados que tinham para a época, tinham também bom gosto!


Não se pode ir a Tulum e não provar a gastronomia local. Um restaurante com pratos tradicionais, o Kinich, foi uma das minhas melhores experiências com a comida mexicana e definitivamente as melhores empanadas de queijo e espinafres. Descobri novos sabores como o sikilpak, um prato maia que consiste numa mistura de sementes de abóbora torradas e moidas, tomate e coentros picados, que acompanha as tortilhas e que estou ansiosa por experimentar fazer mal chegue a Portugal.


A região conta também com vários cenotes, sendo o Gran Cenote, o maior e mais visitado. É possível fazer mergulho ou snorkeling, sendo o primeiro aconselhado apenas a mergulhadores experientes porque as grutas atingem mais de 40m de profundidade. Mesmo para quem não pratica o desporto, a simbiose entre as grutas e a vegetação, onde o verde predomina, a água cristalina e os pequenos cágados que nadam ao nosso lado são algo a não perder.


Dicas:

Como ir - a partir de Cancun mais uma vez a opção mais confortável, e mais cara também, é apanhar o autocarro de 1°classe da ADO. Existem autocarros de segunda classe, mais económicos mas que fazem paragem em Playa del Carmen e muitas vezes é preciso mudar de autocarro. A outra opção são os coletivos, a forma mais barata de chegar a Tulum com paragem e troca de carro em Playa del Carmen. Todos demoram aproximadamente o mesmo tempo que são cerca de 2h30m.

Onde ficar - Chalupa hostel: tem piscina, ar condicionado, camas grandes e confortáveis e um ambiente agradável. Noite em dormitórios de 4 camas fica por 200pesos. É caro para os preços praticados no México, mas também tem padrões bastante mais elevados que um hostel comum.


O que fazer - alugar uma bicicleta: durante 24h fica por 100pesos.
Visitar os cenotes: os 4 cenotes abertos para visita têm diferentes preços, sendo o gran cenote 100pesos.
Visitar as ruínas maias: a entrada custa 30 pesos.
(A conversão atual é 1€=17,8pesos)