domingo, 2 de março de 2014

Antigua, a Andaluzia da Guatemala


É fácil perdermo-nos em Antigua. Ruas quase idênticas, labirínticas até, são uma atração para aqueles que viajam sem pressa, que exploram os recantos mais inesperados, com a fome voraz de descobrir a alma da cidade. A imponência dos vulcões que a rodeiam, o estilo barroco bem preservado aliado a quase 500 anos de história, a simpatia dos seus habitantes e o temperamento dos mercados, conferem a Antigua uma personalidade única. 


Por muitos considerada a gema da América Central, tem parecenças inegáveis com a espanhola Andaluzia. Se substituíssemos os seus coloridos habitantes, indubitavelmente de descendência indígena, por dançarinas de castanholas em riste, não teria a menor dúvida que me encontrava na vizinha Espanha.



A denúncia não anónima do meu erro geográfico tem como autores os três vulcões que rodeiam a pequena cidade. O Fuego, ainda ativo, com um caráter imprevisível, distinguível pelas emissões de fumo permanentes, talvez para lembrar aos habitantes da sua história intempestiva, o pacifico Agua, já adormecido, e o Acatenango, o terceiro maior vulcão do país com quase 4000 metros, famoso entre os trekkers mais destemidos, pela dificuldade da subida. Para os menos corajosos, ou simplesmente, para os que não são atletas olímpicos, a subida ao vulcão Pacaya é uma das visitas mais procuradas.


Sob o olhar dos gigantes, Antigua é um retângulo, com ruas sem curvas, paralelas e prependiculares, preenchidas com casas baixas de cores quentes, de estilo colonial, com um ponto de origem, o parque central. O tráfego é lento, principalmente pelas caminháveis dimensões da cidade e pelas estradas em pedra, herança espanhola que não foi ainda substituída.


Se se vive e passeia tranquilamente numa parte da cidade, também se encontra caos, movimento e genuinidade na outra. A colorida estação de chicken bus e o mercado são atrações, apesar de pouco convencionais, imperdíveis. 



Na primeira deparamo-nos com um espetáculo de cores berrantes e luzes fluorescentes, dezenas de autocarros estacionados com os respetivos motoristas a fazer propaganda ao seu destino e outros tantos a desfilar à nossa frente recheados de passageiros apinhados, numa competição cujo objetivo é a vistosidade. 


O segundo, é o meu local preferido na cidade. Para mim, os mercados são um banquet para os sentidos e o de Antigua não é exceção.



Mal nos aproximamos, ouvimos gritos maias em espanhol, que se confundem no meio dos aromas de comidas que não sei pronunciar, ou de bancas coloridas com frutos tropicais que apelam ao instinto fotográfico do visitante. Vende-se tudo o que se queira comprar e é fácil perder um dia envolvido nele. 


Mesmo ao lado encontra-se o mercado de artesanato, onde as máscaras, a roupa e acessórios em couro e a bijuteria em jade fazem as delícias do público feminino.



Não se pode deixar Antigua sem provar a cozinha tradicional, num dos muitos restaurantes, ou mesmo em mercados ou bancas de rua, para todos os bolsos e gostos. 




Nem sem dançar salsa nos vários bares abertos diariamente e frequentemente cheios, o que revela um crescente interesse turístico pela cidade. Este turismo, principalmente feito por estudantes que vêm de todo o mundo com objetivo de aprender a língua, trouxe um ritmo jovem e vibrante a Antigua, característica que contrasta com a sensação de "paragem no tempo", que sentimos, sob o famoso arco de Santa Catalina, quando a vemos pela primeira vez.


É fácil perdermo-nos em Antigua. Mas o seu maior perigo é de não a querermos deixar: atraente, charmosa e confortável, todas as esquinas apelam para ficar mais um dia ou dois, ou trinta ou mais.


Dicas:

Alojamento - Optei por hospedar-me numa casa de um casal local, o Juan e a Amália. Na casa dos 70 anos, são pessoas muito amáveis e cultas (que já viajaram quase tanto como eu) e oferecem quartos limpos e confortáveis e 3 refeições diárias por apenas 15€/dia. 

Restaurantes - Como tinha pensão completa, com direito a comida típica e confecionada pela Amália, posso apenas aconselhar um restaurante, o Fonda de la Calle Real.

Compras - Para além do mercado de artesanato, existem diversas casas de arte, joelharia e couros, com preços bastante reduzidos.



2 comentários:

  1. Interessante. Vou passar por lá em Fevereiro. Tenho medo da desilusão: uma amiga minha que é da região disse-me que depois de visitar Cuba não se pode ver nada mais interessante na América Central.

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    1. Olá Ricardo! Como correu a viagem? Desculpa, só vi agora o teu comentário. Nunca fui a Cuba, mas penso que a América Central tem muito para oferecer. Eu pessoalmente adorei a cidade de Antigua, conheci muita gente interessante da Guatemala aí, mas também fui em época baixa e fiquei em casa de um casal de idade muito simpáticos. Acaba tudo de alguma forma por contribuir para a boa experiência que tive na cidade! Mas há outros locais que valem a visita: Tikal, Semuc Champey, Tortuguero, Granada, San Blás...

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