sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Guatemala, o país de todas as cores



Guatemala não é um destino para todos. É preciso ter estômago para lidar com a pobreza, que como uma praga assola o país. É difícil ver as condições em que vivem as gentes, principalmente nas pequenas aldeias, por onde passei e me encheram o coração de tristeza. Tenho a imagem da pequena Maria, uma menina que conheci nas montanhas, em Semuc Champey, com 12 anos, mas que aparenta menos de 8, que não vai à escola e passa os dias a vender chocolates que faz com a mãe, aos hóspedes do hostel el portal, onde o pai trabalha. O maior sonho da Maria é seguir os passos do pai e um dia ser recepcionista do hostel, que é a sua casa, sendo os hóspedes os seus amigos.


Guatemala é perigoso, pelo menos de acordo com os comunicados e advertências assustadoras, que os países ocidentais dirigem aos cidadãos que lá pretendem fazer turismo. É um país de terceiro mundo, é certo, onde é preciso ter cuidados redobrados, como não mostrar grandes quantidades de dinheiro vivo, não usar jóias, ou roupas vistosas, nem usar aparelhos eletrónicos, nas zonas mais pobres, ou em Guatemala City, a capital, um lugar a evitar a não ser que não se tenha alternativa.


Mas penso que isso faz parte do senso comum, quando se viaja para um país, onde muita gente ainda não tem acesso a água canalizada ou eletricidade,  onde se podem fazer refeições por menos de 2€, onde, à excepção de Antigua, não existem hotéis de luxo, ou turismo que não seja o de mochila às costas.


Durante as minhas duas semanas no país não conheci senão curiosidade e amabilidade por parte dos Guatemaltecos. Nunca me senti insegura, nem quando estive quatro horas numa estrada bloqueada por manifestantes, agricultores de cardamomo, à espera que estes chegassem a um acordo com o governo sobre os preços praticados sobre a especiaria.




Senti-me em casa em Antigua, onde o Juan e a Amalia, um casal na casa dos 70, me acolheram. Senti-me protegida, quando fui cinco horas esmagada num chicken bus, no meio de operários que queriam saber tudo sobre o meu país, mas acima de tudo se estava a ser bem tratada no deles, com um orgulho indiscritivel no olhar, pelo facto de eu, uma gringuita que vem de um país longínquo, da rica, mas falida Europa, fazer uma viagem de tantas horas e tão cara para visitar a Guatemala.


É o país mais genuíno onde já estive. Onde as mulheres velhas ou novas ainda usam os seus trajes coloridos no dia a dia, onde vinte e um dialetos maia ainda são falados por 9 milhões de pessoas, principalmente nas montanhas onde conheci pessoas que não falavam espanhol.


Em Chichicastenango, se ignorarmos o mercado turístico, parece que paramos no tempo. À porta da igreja vê-se uma imagem que poderia ser observada provavelmente, há 50 ou há 100 anos atrás. Mulheres com os trajes típicos vendem flores ao longo da escadaria, envolvidas por uma nuvem de incenso que faz arder as narinas, espalhado por senhoras idosas que dizem, de joelhos, as suas ladainhas.


É o país de todas as cores. Desde as roupas, aos autocarros que já se tornaram o símbolo do país e ao pequeno quetzal, um pássaro de cores garridas, que deu o nome à moeda nacional.


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